Muito mais que pomadas e sol para tratar psoríase: Nutrição!
A psoríase é uma doença de caráter inflamatório que acomete a pele e pode se manifestar de diferentes formas e intensidades, em diferentes faixas etárias. A lesão de pele observada se caracteriza por hiperproliferação epidérmica, diferenciação anormal dos queratinócitos e recrutamento de células imunes, como linfócitos T, que secretam substâncias inflamatórias no local da lesão, potencializando a vermelhidão, coceira e aspecto de ferida.
Na edição de dezembro de 2009 da revista Viva Saúde a reportagem “A forma certa de tratar psoríase” cita alguns fatores desencadeadores da doença, além de indicar que o controle pode ser feito com medicamentos tópicos, orais ou injetáveis de acordo com o grau de severidade da doença. Além disso, enfatiza a importância do sol na melhora das lesões. Porém, não cita a importância da nutrição.
Independente da atividade da doença, pacientes com psoríase tendem a apresentar um perfil lipídico sanguíneo desfavorável, com aumento dos níveis de colesterol e triglicerídeos, e menores níveis de betacaroteno, vitaminas A e E no sangue, indicando a associação da doença com estresse oxidativo e risco cardiovascular, condições que aumentam a inflamação sistêmica.
Os profissionais de saúde devem planejar uma estratégia terapêutica abrangente para o tratamento da psoríase com foco na modulação do sistema imune, prevenção dos fatores de risco cardiovasculares, correção de deficiências nutricionais e eliminação de fatores externos (dietéticos ou não) que impõem algum tipo de estresse ao organismo.
A exposição solar melhora as lesões de pele provavelmente por promover a síntese de vitamina D3, a partir de seu precursor presente na pele. A vitamina D ativa modula a proliferação epidérmica, diferenciação e inflamação cutânea. A identificação de polimorfismos genéticos no receptor dessa vitamina em pacientes coreanos com psoríase e a eficácia de análogos da vitamina D no tratamento confirmam a importância desse nutriente na modulação da doença. Banhos de sol nos horários recomendados devem fazer parte do dia-a-dia desses pacientes sempre que possível. Como a vida moderna dificulta esse hábito, deve-se considerar a necessidade e possibilidade de suplementação.
O consumo de fibras deve ser avaliado, e caso identifique-se quantidade insuficiente é necessário aumentar a ingestão para ajudar no controle dos lipídios sanguíneos. O consumo de frutas, vegetais e produtos integrais, além de oferecer fibras, fornecem compostos bioativos e vitaminas com propriedades antioxidantes, importante para o controle do estresse oxidativo, e outras funções mais específicas. A vitamina A desempenha papel no controle da proliferação e diferenciação celular e do processo de queratinização. Já a vitamina E protege os lipídios sanguíneos de sofrerem oxidação e consequentemente ativarem o sistema imune e inflamação sistêmica.
Não existe consenso quanto à suplementação dessas vitaminas para tratar a psoríase, mas a dieta pode ser enriquecida com fontes alimentares das mesmas. Oleaginosas, óleos vegetais extravirgem (oliva, macadâmia, pepita de uva) e abacate contribuem com a ingestão de vitamina E, enquanto ovos, vegetais folhosos e frutas alaranjadas fornecem vitamina A pré-formada e o precursor da vitamina A (betacaroteno). O zinco é importante para a mobilização da vitamina A no fígado e seu transporte adequado na circulação. Além disso, desempenha função no sistema de defesa antioxidante enzimático, no processo de cicatrização e na regulação das atividades do sistema imune. Como pacientes com psoríase apresentam tendência a níveis menores de zinco, atenção deve ser dada a este mineral e suas fontes alimentares como ostras, peixes, carnes, cereais integrais e leguminosas.
Estudos com infusão de emulsão lipídica rica em ácidos graxos essenciais ômega-3 mostram os efeitos positivos na melhora da atividade da doença ao reduzir o valor do índice utilizado para classificar a gravidade das lesões, principalmente em quadros severos. A via de administração intravenosa em relação à via oral apresenta a vantagem de disponibilizar mais rapidamente esses ácidos graxos essenciais para as células, mas é mais complicada e desconfortável para o paciente (importante lembrar que essa via de administração não pode ser prescrita pelo nutricionista). A incorporação desses lipídios na membrana celular reduz a liberação de substâncias inflamatórias e modula o sistema imune. As doses utilizadas geralmente ultrapassam os níveis potencialmente obtidos a partir dos alimentos usualmente consumidos, muitas vezes sendo necessária a suplementação com cápsulas de óleo de peixe ou linhaça. Além de aumentar a quantidade de w-3 na dieta, é importante adequar a quantidade de ácidos graxos essenciais w-6, usualmente ingeridos em quantidades elevadas. O excesso de w-6 na dieta favorece a produção de substâncias pró-inflamatórias. Óleos vegetais utilizados para a cocção como o de milho, girassol e algodão apresentam elevada proporção desse ácido graxo, e devem ser evitados. O óleo de soja é bastante acessível e pode ser utilizado com moderação uma vez que apresenta menor proporção desses ácidos graxos. Além disso, deve-se dar preferência aos cortes de carnes mais magros, uma vez que a gordura animal visível e intramuscular é rica em ácidos graxos saturados, colesterol e ácidos graxos w-6, que contribuem também para doenças cardiovasculares. O consumo de peixes deve ser estimulado e introduzido nas refeições com maior frequência.
A introdução de uma dieta rica em antioxidantes e nos nutrientes já citados é fundamental. Mas não podemos esquecer que eliminar fatores que contribuem para a ativação exagerada do sistema imune também é essencial. Alergias ou sensibilidades a alguns alimentos devem ser identificadas para retirada dos mesmos do hábito alimentar. Alguns trabalhos têm indicado que pacientes com psoríase apresentam anticorpos contra a fração da proteína presente principalmente no trigo, cevada e centeio, o glúten. Para estes pacientes, uma dieta livre de glúten pode resultar em melhora clínica significativa. O consumo de bebidas alcoólicas também merece atenção, devendo ser evitado, principalmente nos períodos de exacerbação, uma vez que o uso de medicação é intensificado e a maioria dessas pode ter impacto hepatotóxico.
Os gatilhos relacionados à manifestação ou exacerbação da doença são muitos. Os cuidados com a nutrição não curam, mas melhoram muito, principalmente quando associados aos banhos de sol, terapias para redução de estresse emocional e ansiedade. A genética pode ter um peso importante e a ciência da nutrigenômica tende a avançar na produção de conhecimentos que confirmem o poder da nutrição, mostrando a possibilidade de silenciar ou ativar alguns genes a partir de nutrientes ou substâncias alimentares que contribuam para a melhora ou exacerbação da condição clínica de algumas doenças como a psoríase.
** Texto elaborado pela Dra. Tatiana Fiche Salles Teixeira, aluna bolsista do curso de Pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional pela VP Consultoria Nutricional/ Divisão Ensino e Pesquisa.
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